segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Hominem Molestus


    Samuel estava em sua sala, com a lareira acesa e o coração apagado.
   A vida inteira ele ficou ali esperando algo acontecer. Algo que nunca aconteceu... Por isso, há muito tempo, ele parou de esperar qualquer coisa da vida.
   Faltavam 13 segundos para o relógio marcar meia-noite e sua vizinhança inteira gritar "Feliz Natal!", ele acordar irritado e ir deitar-se na cama, como havia acontecido nos últimos 33 anos.
   Faltavam só esses poucos segundos. Então, a porta de sua sala abriu-se. Um fenômeno raro. Podemos dizer que a probabilidade disso ocorrer era uma das mais baixas do Universo, visto que nem mesmo sua mãe — se estivesse viva — ousaria adentrar sua casa amarga, rígida e infinitamente hostil. Samuel acordou, olhou para o visitante invasor com o olhar mais ofensivamente triste que alguém já conseguiu fazer na vida. Não precisou de palavra alguma para expressar-se. Aliás, será que ele ainda sabia falar?
   O visitante sabia, e disse:
   — Olá! Como você está, amigo?
   O olhar de Samuel respondeu-lhe, instantaneamente:
   —  ...
   — Samuel, não sei você se lembra de mim ou se você ainda sabe que eu existo, mas eu sou o Papai Noel! Venha cá, dê-me um abraço, sinta a magia do Natal!
   Samuel não se lembrava desse nome. Mas por alguma razão, as palavras ditas pelo velho alegre e caloroso provocaram, por incríveis segundos, alguma coisa prazerosa dentro de seu coração octogenário. Sua expressão não mudou, pois ela não sabia mudar. Havia mais de 33 anos que ele não fazia ideia do que era sentir algo prazeroso. Quando se aposentou, afastou-se da indústria e enrijeceu por completo. Tudo o que sabia fazer era trabalhar. Sem trabalho, não sabia fazer nada, e ficou durante anos esperando acontecer alguma coisa nova, revigorante, inspiradora... Na verdade, ele esperava isso desde que aprendeu a esperar. Nunca sentiu muita alegria na vida. Todavia, foi com a aposentadoria que qualquer sentimento de utilidade que ele ainda nutria sumiu completamente, junto com o pouco de esperança que nasceu com ele e sobrevivia, já capenga, ao seu pessimismo incalculável.

   Samuel acordou com sua vizinhança gritando "Feliz Natal!", irritou-se e foi deitar-se no quarto.
   Aquilo foi um sonho. Não havia Papai Noel algum.
   Ele se deu conta disso e estranhou, afinal, há muito que tinha esquecido de como eram os sonhos e, mesmo, que eles existiam.
   Apesar de irreal, aquele foi o melhor momento de sua vida (segundo sua memória, que sempre foi muito boa), porque ele pôde relembrar o que era felicidade (ainda que por poucos segundos), o que era sonho e como, talvez, seria o Papai Noel (e até mesmo "o que" era um "Papai Noel"!).
   Apesar de não alterar em nada a sua rotina amarga, a ilusão causada por aquele sonho proporcionou um pouquinho de paz durante os próximos — e últimos — dias de sua vida.

   Ninguém sabe se é verdade (e quase ninguém acredita que seja), mas houve rumores de que Samuel morreu porque seu coração não suportou bombear os sentimentos quase bons que começou a ter após tal evento — o sonho.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Então é Natal

Então é Natal. E o que você fez?

Chega o natal e com ele chega o amor que nunca existiu e o perdão que não quer perdoar.
Chega o natal e com ele chega a dor que sempre se sentiu e o rancor que ainda quer "rancorar".
Chega o natal e com ele não chega o papai Noel e nem a neve que tanto se espera.
Chega o  natal e com ele não brilha o céu e nem passa a ser o que já não era.
Chega o natal e nada muda, mas tudo se finge até esquecer que o natal existe.
Chega o natal e tudo continua — depois de fingir alegria — igualmente triste.
Mas todo mundo sabe que é clichê falar mal do natal.
Mas todo mundo sabe que, afinal, uma dose de hipocrisia por ano, não é tão prejudicial.

Vivamos, pois, a alegria —  ainda que fingida — de um fim de ano.
Finjamos, pois, que tudo valeu a pena e que o melhor está por vir.
FELIZ NATAL!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Incongruente

"...Mas eu posso falar! Eu li a bíblia toda!"
"Acompanhou com qual dicionário?"
"Dicionário?"
"....Porra..."

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Maçante

 Incomoda-me essa escrita repetitiva que insiste nos pleonasmos e o texto fica maçante e o texto fica enrolado e o texto fica demorado e o texto fica, nunca vai, só fica. Incomoda-me essa escrita que trata com extrema superficialidade de assuntos profundos, almejando, assim, um texto interessante tanto para quem pensa quanto para quem não pensa. Incomoda-me essa escrita que mistura a aplicação mais-que-correta de algumas regras da Língua enquanto abusa de erros pavorosos e termos extremamente informais. Incomoda-me. Incomoda-me esta escrita.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Um Blog ?

...
"Um blog?"
"Sim, um blog."
"Mas que tipo de blog?"
"Sei lá, parece ser mais um blog qualquer!"
"Mas pra quê?"
"Ué, pergunta pra quem fez!"
"E quem fez?"
"Sei lá, pergunta pro Google..."
"Mas você não sabe nada?!"
"Ok, ok. Vou falar tudo o que sei...
Há uma porrada de tempo (pouco antes do próprio tempo ser inventado, me parece), foi feito um experimento, um sistema que, a princípio, deveria ser o mais simples de todos, apenas para testar alguns fenômenos físicos. Mas deu errado. Então, o objetivo passou a ser que o sistema pudesse testar tudo que há para ser testado, tornando-se, assim, o mais complexo de todos. Também deu errado. Acabou que o sistema explodiu, tornou-se mais um sistema qualquer, sem nenhum atrativo, gerou formas de vida imbecis e, por ser tão banal, recebeu o nome de PIC7008 (ou Universo, para os mais velhos). Após iss..."

"Peraê! Você está realmente falando tudo o que sabe?! Eu só quero saber o porquê desse blog e quem fez isso aqui!"
"Ahhh, meu filho, isso nem Eu sei! Vai lendo aí, se tiver paciência, mas certamente é menos interessante que a história que eu ia te contar..."

"Tudo bem, Deus, valeu pela atenção. =/"

Bem-vindo ao Ctrl.VERSIAS! :D